quinta-feira, 18 de setembro de 2014

"Buscava um novo livro pra ler e constatei que faltava ali minha edição de poesias selecionadas do Federico García Lorca. Revirei a casa em busca do livro perdido. Não podia ser, e esse eu ainda nem tinha lido. Como eu, eu que amo tanto os livros, podia ter perdido? Resignado com minha burrice primária voltei para estante e decidi pôr em ordem os livros que ainda não tinha perdido. Mas era inútil: arrumava, os livros caíam pra direita. Arrumava, caíam pra esquerda. Pra nada sirvo. Então decidi contar quantos livros ainda tinha: será que perdera eu mais livros do que tinha me dado conta? Um, dois, três… e então, por detrás de um dos livros estava espremida a minha Antologia de Federico. Na ordem estava apenas a paz do encontro: mas o que existe já existia há milênios: o livro perdido estava aqui o tempo todo como o tempo todo estava aqui esse relato que escrevo e que pode conter mais do que um relato: Talvez seja simbólico. Às vezes penso em me organizar, quanto perco por deixar tudo em desordem. Mas me vem o medo e é melhor não ordenar. É melhor deixar no caos as coisas que julgo perdidas e enterradas: não quero retirar das prateleiras interiores ódios, amores e esperanças empoeiradas."

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